Brasil enfrenta crise no setor por excesso de energia solar e eólica

Brasil enfrenta crise no setor por excesso de energia solar e eólica

Sem rede para escoar energia, renováveis perdem força na transição elétrica

 

O Brasil vive um paradoxo no setor de energia limpa. Apesar de deter uma das matrizes energéticas mais renováveis do mundo e ser o terceiro país que mais instalou capacidade eólica e solar em 2024, a indústria nacional de energia renovável enfrenta sua pior crise desde o início dos anos 2000.

Entre os principais problemas estão a falta de infraestrutura de transmissão, os altos juros e mudanças regulatórias que reduziram drasticamente o ressarcimento por cortes de produção impostos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Empresas como a 2W Ecobank e a Rio Alto Energia entraram em recuperação judicial ou pediram proteção contra credores. A fabricante de pás eólicas Aeris demitiu mais de 3.700 trabalhadores e teve de renegociar 90% de suas dívidas. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), o setor cortou mais de 11 mil empregos entre 2024 e 2025.

A crise também expõe gargalos estruturais. A maior parte da geração eólica e solar do país está no Nordeste, mas o principal mercado consumidor está no Sudeste. Como não há linhas de transmissão suficientes para escoar o excedente, a produção é limitada – especialmente durante o dia, quando há maior geração solar.

 

O ONS começou a impor cortes na produção em 2020, com a pandemia. Após um apagão em 2023 que teve entre suas causas a intermitência de renováveis, as restrições foram ampliadas. A tendência, segundo relatório recente do ONS, é de aumento desses cortes até 2029, à medida que novas usinas entrarem em operação sem que a infraestrutura de transmissão acompanhe.

Esse cenário afeta a previsibilidade de receita de usinas solares e eólicas, que perdem parte da produção gerada e, portanto, faturam menos. Até 2023, essas perdas eram integralmente ressarcidas via tarifa de energia. No entanto, uma nova regulação da Aneel permite agora a recuperação de, no máximo, 3% das perdas, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

A Absolar e a Abeeólica processaram a Aneel, cobrando o ressarcimento de perdas acumuladas em R$ 4,8 bilhões. O governo federal criou uma comissão para tratar do tema, mas ainda não houve respostas concretas.

Impactos para a mobilidade elétrica

A crise no setor renovável pode afetar diretamente o avanço da mobilidade elétrica no Brasil. Embora veículos elétricos tenham zero emissão local, seu benefício climático real depende da origem da eletricidade usada na recarga. Com a energia renovável sendo subaproveitada, abre-se espaço para o acionamento de usinas termelétricas – mais caras e poluentes.

Além disso, o Nordeste, epicentro da energia solar e eólica, é também região estratégica para projetos de produção de hidrogênio verde, considerado fundamental para descarbonizar setores pesados e potencialmente abastecer frotas de veículos comerciais e ônibus.

A estagnação atual pode atrasar investimentos em armazenamento, como baterias, e impactar também o custo da energia em horários noturnos, quando veículos elétricos são carregados em maior volume. Embora o governo preveja a realização de leilões para compra de baterias, esses foram adiados para o segundo semestre de 2025. Segundo a Absolar, os impostos sobre baterias no Brasil podem chegar a 85%, o que inviabiliza sua adoção em larga escala pelas empresas do setor.

 

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